Há seis décadas, Medeiros Neto via nascer uma de suas mais importantes instituições: o Ginásio João XXIII. Em 1965, movido por uma visão progressista e um profundo amor pela comunidade, o saudoso Frei Salésio concretizou um sonho que iria moldar o futuro da cidade. Num mesmo impulso de fé e desenvolvimento, o dedicado padre não apenas idealizou a escola, mas também ergueu a Igreja Matriz, a primeira igreja católica da cidade, e o centro paroquial.
Essas obras gêmeas, nascidas sob a mesma inspiração, tornaram-se pilares gêmeos da comunidade local. A escola surgiu com um propósito claro: impedir que os jovens medeiros-netenses precisassem emigrar para cidades como Nanuque ou Teófilo Otoni em busca de estudo. Sua iniciativa pioneira deu origem ao colégio mais antigo do município, que começou suas atividades como uma instituição particular.

A origem do Ginásio João XXIII está profundamente ligada a uma missão sagrada. Inspirado pelo Evangelho e comprometido com a dignidade humana, Frei Salésio plantou uma semente que frutificou como obra da Igreja, uma verdadeira sementeira de valores, esperança e transformação. Ao recordar esses primórdios, reconhece-se que cada capítulo da história da escola foi escrito com a tinta da fé e sustentado pela crença de que a educação é um instrumento de vida.

Por tantos anos, sob o cuidado da Diocese, a escola foi mais do que um espaço de ensino: foi terra de missão, construída não apenas com paredes e livros, mas com o suor, o sonho e o amor de gerações de famílias, alunos, professores, gestores e colaboradores que fizeram do João XXIII um lugar de acolhimento e futuro.

A história rica e multifacetada do João XXIII está sendo agora eternizada em um documentário em quatro capítulos, idealizado pelo cinegrafista Allan Patrick Vieira, o mais antigo profissional de audiovisual em atividade no município. Com uma trajetória que remonta aos anos 80, capturando a vida da cidade com sua câmera analógica Panasonic de ombro, Allan lidera este projeto realizado com recursos da Lei Federal Aldir Blanc e apoio fundamental da Secretaria Municipal de Cultura. “Este primeiro documentário é apenas a parte 01”, afirmou ele à reportagem, destacando o caráter serial da obra.

Para compor a narrativa inicial, foram entrevistados professores que carregam parte dessa memória. A professora Lucélia Gomes rememorou os primórdios da escola e o contexto competitivo que se formou anos após sua fundação. Com motivações políticas, influentes da época uniram-se para criar o Colégio Alvorada, uma instituição pública que passou a disputar alunos e eventos com o João XXIII. Lucélia relembrou, com vivacidade, como os desfiles de 7 de Setembro se transformavam em épicas batalhas cívico-musicais, com as duas escolas partindo de praças diferentes e se encontrando na Praça Sete, onde travavam uma disputa para ver quem tocava melhor e saía coroada como “escola campeã”.

Em sua contribuição à obra documental, o professor Ricardo Martins trouxe à tona um capítulo mais sombrio desses 60 anos. Ele mencionou o longo período de inatividade da Quadra Frei Salésio, anexa à escola, que ficou por três gerações de alunos sem funcionar. Esse fato representou uma grande perda para a comunidade escolar, já que o espaço sempre foi vital não apenas para as aulas de Educação Física, mas também como palco para diversos eventos culturais que animavam a vida estudantil e a cidade.

O projeto contou com uma colaboração primordial para sua consistência histórica: a diretora da escola, Daisy Gomes. Sua efetiva cooperação nos trabalhos de pesquisa e recuperação de fotos antigas foi essencial para garantir que a memória visual do colégio pudesse ser reconstruída de forma coesa e emocionante. Falando em Daisy, ela é uma das entrevistadas da parte 02 do documentário, prometendo revelar ainda mais histórias íntimas e interessantes sobre a trajetória da escola.
Além de reviver o passado, o documentário também registra o presente. Os professores Lucélia e Ricardo detalharam as programações pedagógicas especiais realizadas em 2025 em comemoração ao sexagésimo aniversário. São projetos, eventos e reflexões que buscam conectar as novas gerações à rica história que pisam, mostrando que a celebração é um exercício ativo de reconhecimento e continuidade.
Nestes sessenta anos, a comunidade escolar testemunhou que os desafios foram superados por uma força que transcende o esforço humano. Quando faltaram recursos, surgiu sustento. Quando os caminhos pareceram estreitos, novas portas se abriram. Essa trajetória é vista como guiada por uma mão fiel que iluminou os passos nos momentos difíceis, renovou a esperança e soprou ânimo para que a educação florescesse como instrumento de transformação. Hoje, agradece-se por cada criança que encontrou ali dignidade, por cada família que caminhou junto e por cada profissional que, com vocação, fez da escola um espaço de luz.

A importância do Ginásio João XXIII transcende seus muros. Mais do que uma escola, a instituição é um pilar da identidade de Medeiros Neto, um símbolo da força da iniciativa comunitária e da crença na educação como alicerce do desenvolvimento local. Sua criação foi um ato de resistência contra o êxodo intelectual e um investimento no potencial da própria terra.

Ao completar 60 anos, o colégio carrega nas salas de aula, nos corredores e em sua quadra agora reativada, as marcas de incontáveis vidas que por ali passaram. O documentário em produção não é apenas um registro, mas um tributo a essa jornada, garantindo que a visão do Frei Salésio, as rivalidades que movimentaram a cidade, os desafios superados e as vitórias celebradas continuem vivos na memória coletiva.

A celebração deste marco não é apenas memória do passado, mas renovação do compromisso de manter vivo o propósito original: formar pessoas com sabedoria, humanidade e fé. A história do João XXIII, afinal, é um capítulo essencial da própria história de Medeiros Neto.
Da Redação do Liberdade Notícias


















