Com a morte de Lázaro Barbosa, a palavra da vez em Barra do Mendes é ‘alívio’. Os moradores da cidade onde o criminoso nasceu tinham medo de que ele pudesse retornar. Foram 20 dias de angústia e muitas pessoas não saíam mais de casa, outros não dormiam mais sozinhos e o clima era de alerta e tensão. A notícia da morte de Lázaro é motivo de celebração e alguns já disseram que vão até beber e soltar fogos. “A vida vai poder voltar ao normal”, diz uma moradora.
Segundo ela, o clima é de felicidade e que os moradores estavam torcendo para que Lázaro fosse morto. “Está todo mundo acompanhando as notícias, a cidade toda parou. Até o hospital parou, todo mundo lá foi ver as notícias. Hoje é dia de feira e o pessoal da zona rural está todo aqui na cidade, então está uma festa. Tem gente dizendo que vai comprar até foguete para soltar, beber para comemorar. Só se fala disso. Nos grupos, pelo celular, é muita mensagem. Está bombando”, diz ela.
A moradora justifica a comemoração: “É o fim de um pesadelo. Aqui estava um caos, as pessoas estavam com medo dele voltar. Tinha gente que não estava saindo na rua. Tem umas pessoas dizendo que a gente tinha que pensar na família dele, mas comigo não tem essa. Ele matou um monte de gente e não pensou na família de ninguém”, acrescenta.
Ainda de acordo com a moradora, até mesmo alguns familiares de Lázaro, moradores da região, estavam torcendo para que ele fosse morto. “Aqui tem umas tias e primas dele, mas todo mundo queria que pegassem ele logo, não teve coisa de sentimento, eles estavam torcendo para ele ser morto mesmo porque eles também têm medo. Deus me perdoe, mas acho que até o pai dele deve estar aliviado”, finaliza.
Outro morador de Barra do Mendes também se diz aliviado com a notícia. “É um alívio mesmo. A sente pela família dele porque não tem como, somos seres humanos, mas o clima é de alívio. Porque existia um medo muito grande dele voltar. Surgiu a conversa que ele poderia estar voltando para cá, até porque a família tem terras aqui, propriedades”, ressalta.
Anderson Sodré é policial aposentado e participou de buscas por Lázaro em 2008, após o criminoso matar Carlito e Manoel no povoado de Melancia, zona rural de Barra do Mendes. Para ele, a morte de Lázaro era necessária. “Ele poderia ser preso e depois sair ou fugir, como já fez. Aí ele ia continuar matando gente do bem. A gente sente um pouco pela família dele, mas por ele não. A gente sabia que ele não ia melhorar, ia acabar tirando mais vidas. Deus escolheu o melhor lugar para ele agora”, opina.
Anderson conta que as buscas pelo criminoso sempre foram difíceis. “Fizemos muitas buscas no mato, dia e noite. A gente recebia uma pista e, quando chegava lá, era só rastro dele. Ele deixava cama de papelão que tinha feito para dormir. E a gente não conseguiu pegar, ele se entregou depois que cansou. Desde aquela época ele fazia as mesmas coisas, entrava nas casas para comer e ia despistando os policiais”, revela.
“Ele foi criado no mato praticamente, ainda novinho ele já pegava espingarda, passava dias no mato sozinho. Uma vez ele fugiu da cadeia e nós fomos procurar ele dentro do mato. Eu bati de frente com ele e ele já estava com o revólver na mão. Ele atirou em mim e eu consegui pular antes. Aí quando levantei ele já estava dentro do mato de novo e não deu para eu atirar nele mais”, acrescenta Anderson.
O policial aposentado também fala do medo que a população sentia de Lázaro. “Todo mundo tem medo dele. Na época, um povoado pequeno, o pessoal abandonou as casas, todo mundo assombrado. Ninguém tinha paz. E o medo dele voltar sempre ficou. Eu mesmo tinha medo, quando vinha para o meu sítio eu não largava a minha arma”, finaliza.
O irmão de Manoel, uma das vítimas de Lázaro em 2008, concorda com o ex-policial. “Graças a Deus estamos livres desse aí, não vai ter mais gente morrendo pelas mãos dele”. Pedro de Oliveira conta que estava na praça da cidade, conversando sobre as buscas pelo criminoso, quando recebeu a notícia. “Muita gente comemorou na hora, vibrando mesmo, dando graças a Deus. O sentimento é de alívio, mas é um momento complicado porque a gente acaba revivendo tudo o que aconteceu”, diz.
“O pessoal aqui está colado na televisão, mas eu não consigo assistir. Foi muito sofrimento e ainda tem um trauma e isso tudo vem à tona agora. Ele fez coisas terríveis e deve ter matado muito mais gente do que se sabe”, pontua Pedro. O irmão de Manoel também ressalta o medo que todos na cidade cultivam por Lázaro após tantos crimes. “Todo mundo estava com medo, tinha gente que nem dormia. Não se falava em outra coisa, o medo de Lázaro dominou todo mundo aqui”.
Mas esse sentimento também vinha acompanhado de outro: “Isso se transformava em ódio. Eu sinto ódio. Mesmo quem não perdeu ninguém pelas mãos dele sente também. Eu tenho certeza que todo mundo aqui queria tirar um pedacinho dele porque é muita raiva. A gente pede a Deus que não apareçam outros que nem ele. A gente quer ter paz”, diz.
Até mesmo Adriana, que conviveu com Lázaro em Barra do Mendes e é apontada como paixão platônica dele, diz se sentir aliviada após a confirmação da morte do criminoso. Ela revelou ao Balanço Geral que também temia que ele voltasse à Barra do Mendes, tentando fugir da polícia de Goiás.
“Me sinto aliviada com a morte dele porque ele não vai destruir mais nenhuma família. Aqui foram duas famílias destruídas em nossa comunidade e fora de Melancia foram mais famílias. Agora estou me sentindo tranquila porque não tinha mais paz, dormia direito com medo de dele vir pra Bahia e cometer mais crimes bárbaros. Estava revivendo o que vivi no passado”, disse Adriana.
Ela foi salva por Carlito, um dos homens mortos por Lázaro em 2008. “Vivia sozinha com meu filho e um dia, de domingo pra segunda, ele tentou invadir minha casa e acabou matando uma pessoa que me socorreu. Fui salva por Deus e por Carlito naquele momento de angústia. Nunca tive relacionamento nenhum com esse homem. Acredito que, por morar só com meu filho, fui alvo dele, que queria fazer algo ruim com a gente. Ele foi atrás de mim na casa de Carlito e, ao não me encontrar, matou Carlito”, acrescentou.
Zilda Maria, tia de Lázaro Barbosa, contou ao portal G1 que ficou sabendo da morte dele pelos jornais. Ela também é moradora de Barra do Mendes e disse que, pelo celular, chegou a ver vídeos em que o criminoso aparece baleado, com sangue no abdômen e rosto, sendo carregado por policiais.
“É uma coisa que a gente tem que se conformar, mas na hora que a gente vê as imagens… Eu estou abalada. Ainda não sei como está a mãe dele, mas ela não deve estar bem. Está com o celular desligado. Eu também não estou legal com essa notícia, mas a gente tem que aguentar. A gente já sabia o final dele, depois de tudo isso, mas a gente fica abalada do mesmo jeito. Ele aprontou muito, cometeu crimes, mas é do nosso sangue. Em um momento da vida ele foi uma pessoa querida, então a gente sente”, disse.
*Com orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro
Por: Correio 24 Horas