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Nesta terça-feira (8), dia de Nossa Senhora da Conceição, o Elevador Lacerda completa 147 anos de história. Idealizado pelo engenheiro Antônio de Lacerda e construído pelo irmão Augusto, a obra começou em 1869 e foi concluída em 8 de dezembro de 1873.
De março a agosto, por conta da pandemia de coronavírus, o meio de transporte ficou fechado. Em agosto, o ascensor voltou a funcionar com 30% de sua capacidade, ou seja, seis pessoas por cabine. Para retomada das atividades, o Elevador Lacerda passou por intervenção da Prefeitura para implantação de climatização e estabelecimento de protocolos de segurança para utilização pelos cidadãos. O ascensor também passou por uma ampla reforma, a exemplo de pintura, troca de fiação e iluminação, entre outros itens.
Histórias
Ninguém melhor para contar as histórias do local do que a funcionária mais antiga do elevador, Marinalva Pinheiro Santos, 64 anos, que trabalha como caixa na parte baixa do equipamento há 41 anos. Mãe de cinco filhos, sustentados através do seu ofício, ela sai de Cajazeiras todos os dias para atender os usuários do transporte.
“Eu amo meu trabalho, já poderia até ter me aposentado, mas adoro vir para cá todos os dias e atender toda essa gente que passa por aqui. São turistas encantados e muita gente que sobe e desce todo dia para trabalhar”, diz, emocionada. Durante essas mais de quatro décadas, ela assistiu de perto parte da modernização do meio de transporte. “Quando cheguei aqui a porta abria e fechava no pedal, era totalmente manual”, relembra.
O equipamento já passou por uma série de reformas até chegar ao modelo atual. A primeira delas foi em 1906, quando começou a funcionar movido a eletricidade e teve sua base alargada. Neste ano, precisou parar de funcionar devido às obras de eletrificação, e já no ano seguinte foi reinaugurado. A maior mudança aconteceu em 1930. Nessa nova estrutura foi acrescentada uma nova torre, com mais duas cabinas, além de substituir as duas existentes por modelos mais modernos e eficientes.
Elevador Lacerda na época da sua construção (Foto: Arquivo FGM) |
Mobilidade
O secretário municipal de Mobilidade, Fábio Mota, destaca que, além de ser um dos pontos turísticos mais visitados de Salvador, estando entre os três mais contemplados na capital, o elevador também é um importante equipamento para a mobilidade urbana.
“Tem sempre uma concentração turística grande, as pessoas que vêm aqui querem conhecer o local. No aniversário do cartão-postal, temos que falar do seu destaque como cenário turístico e evidenciar sua atuação como meio de transporte fundamental para a mobilidade. Muitas pessoas que trabalham na Cidade Baixa e moram na Cidade Alta, ou vice-versa, fazem uso diário do elevador. O fluxo é realmente muito intenso. É um equipamento de sumo importância para o funcionamento da cidade”, afirma.
Topografia
O Elevador Lacerda foi criado para solucionar um problema existente de desnível na cidade. No início do século XVII, o uso de guindastes era a única solução para o transporte de cargas em Salvador. As pessoas precisavam se locomover usando longas escadarias e ladeiras íngremes, o que dificultava muito o dia a dia da população. Desde então, além de ajudar os moradores, ele tornou-se um cartão postal e uma atração turística.
De acordo com o historiador Iuri Santos, os elevadores criados em meados do século XIX tiveram um papel crucial na verticalização das cidades, sobretudo nos EUA. “No caso aqui da Bahia, a construção dos irmãos Lacerda trouxe tal estrutura para a zona urbana, algo inédito até então, facilitando o deslocamento de pessoas entre a cidade alta e a cidade baixa de Salvador. Ali nascia uma marca da nossa cidade que ia além das suas funções diárias e se tornava um dos nossos mais importantes cartões postais, admirado até hoje por soteropolitanos e turistas de vários lugares do Brasil e do mundo”, explica.
Do alto de suas torres, descortina-se a vista da Baía de Todos-os-Santos, do Mercado Modelo e, ao fundo, o Forte de São Marcelo. A estrutura tem 72 metros de altura e duas torres: uma que sai da rocha e perfura a Ladeira da Montanha, equilibrando as cabines, e outra, mais visível, que se articula à primeira torre, descendo até ao nível da Cidade Baixa.
O elevador mais famoso da Bahia chega a transportar 900 mil passageiros por mês ou, em média, 28 mil pessoas por dia ao custo de quinze centavos de real por passageiro, num percurso de trinta segundos de duração.
Funcionamento e melhorias
Atualmente, o equipamento funciona de segunda a sexta, das 7h às 22h, e aos sábados das 8h às 22h. Já aos domingos abre das 8h às 15h. Em 2013, no início da gestão funcionava apenas uma cabine. O secretário Fábio Mota faz questão de ressaltar que ao longo desses anos várias intervenções e melhorias foram realizadas no equipamento. “Climatizamos a parte baixa que era uma solicitação antiga dos usuários”, pontua.
Ele lembra que nos últimos oito anos, várias melhorias foram realizadas, a exemplo da modernização da iluminação interna das quatro cabines e implantação de novo sistema de proteção a raios. O elevador recebeu um sistema de modernização das cabines substituindo o sistema de controle, que passou de eletromecânico para digital. Entre as melhorias estão ainda a troca dos bloquetes de sustentação das guias e dos vidros danificados na cobertura da parte baixa. O equipamento recebeu também nova pintura, iluminação, impermeabilização da laje e novo forro.
Para sua operação, a equipe é composta de mecânicos da Semob e mecânico da empresa OTIS Elevadores. Os mesmos executam atividades como inspeção dos equipamentos antes de abertura para acesso ao público, e inspeção geral durante toda operação; sistema de comunicação entre as cabines, cabo de manobra, cabos de tração, serviços de lubrificação, manutenções preventivas e corretivas, acionamento de gerador em caso de interrupção de energia elétrica, além de resgates em caso de alguma pane nos motores. Cuidam também da manutenção predial com serviços de elétrica, hidráulica e manutenção geral do prédio.