O avião que caiu matando a cantora Marília Mendonça e mais quatro pessoas em Minas Gerais, no último dia 5, estava muito perto do pouso – a cerca de 1 minuto e meio apenas, segundo estimou nesta quinta-feira (25) o delegado Ivan Salles, da Polícia Civil de Minas Gerais, que investiga o caso. Em coletiva, o delegado afirmou que a polícia já ouviu as testemunhas e coletou exames toxicológicos, aguardando agora a investigação da Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) sobre o avião para concluir o inquérito.
Salles disse que a polícia descartou a hipótese do piloto ou do copiloto terem sofrido algum problema de saúde, com ajuda dos exames, e também da aeronave ter sido alvo de tiros. O depoimento mais importante foi de um piloto que estava 20 minutos atrás da aeronave que se acidentou. Ele saiu de Viçosa, também em Minas, e pousou em Caratinga, onde o avião com Marília deveria posar, pouco depois da queda.
Esse piloto conversou com Geraldo Martins de Medeiros Júnior, que pilotava o avião que transportava Marília, via rádio. A conversa não fica registrada, porque aeronaves desses porte não precisam ter o equipamento necessário para fazer a gravação. “O piloto em momento algum reportou nenhum tipo de problema. Reportava que ele tinha consciência do que estava fazendo. O que chama atenção é que num determinado momento, o piloto diz que já estava na ‘perna do vento da 02’. O que significa isso? Que o piloto já estava em procedimento de pouso”, destaca. A mãe de Marília, Ruth Moreira, revelou em entrevista que o irmão, Abicieli, que também morreu no acidente, chegou a dizer em mensagem que estavam “quase pousando”.
“Pela oitiva (depoimento) desse piloto, a estimativa que faço é que estava a 1 minuto, 1 minuto e meio do pouso, quando infelizmente parece que ele se chocou com a rede de transmissão da Cemig e acabou ocorrendo o acidente. Falo parece porque ainda precisamos da perícia. Logo depois o piloto que vinha de Viçosa pousou normalmente“, explicou o delegado.
Para ele, a comunicação também praticamente descarta que a aeronave estivesse com algum problema mecânico, já que tão pouco antes da queda o piloto não relatou nada de anormal na conversa. “A gente já avança um pouco mais, não descartando completamente, mas no sentido que a aeronave não teria tido nenhum tipo de problema. Só vai ter certeza com laudo do Cenipa da aeronave”, acrescenta. Tanto que uma hipótese ainda considerada é de problemas nos motores, o que poderia gerar a altitude baixa a ponto de se chocar com cabos próximos.
Um cabo foi encontrado enrolado no motor do avião, mas ainda não há confirmação oficial de que se trata de um cabo da Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig), disse o delegado. “A linha que se tem hoje é que houve esse choque, sim, na rede da Cemig”, disse Salles, afirmando que isso não quer dizer que a culpa do acidente é da companhia.
O delegado diz que o Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia (Crea) está verificando se essas linhas de transmissão estão em local adequado, mas que elas teoricamente não interferem no pouso. “A linha de transmissão está fora da área de contenção do aeródromo. Isso é um fato, a Anac já confirmou. Era preciso ter essa sinalização? Não”, diz. “Por parte da polícia, isso descarta responsabilidade”.
Ele diz que a maioria dos depoimentos ajudou pouco, exceto o desse piloto, já que as testemunhas só viram parte do que aconteceu. “Não ajuda muito na investigação. A gente entra agora em uma fase de encaminhar e aguardar os laudos do Cenipa, que já friso, não há prazo para ocorrer”, disse ele, destacando que as investigações são distintas. “A polícia visa apurar eventual crime e o Cenipa busca evitar novos acidentes”.
O delegado diz que não sabe se o piloto Geraldo conhecia o trajeto para o aeródromo. “É comum pilotos que não conhecem a região ligarem para alguns colegas para poder tomar conhecimento. Infelizmente a gente não vai conseguir se houve essa pesquisa prévia ou não pelo piloto que acidentou”, disse. Agora, a polícia pretende ainda ouvir familiares do piloto e do copiloto. “A gente estava respeitando o luto”, explica Salles, sobre o porquê eles ainda não prestaram depoimento.
Causa da morte
Antes, o legista Thales Bittencourt falou na coletiva e confirmou que a causa da morte foi mesmo politraumatismo contuso em todas as vítimas. Ele explicou que também foram feitos exames toxicológicos e de teor alcóolico para piloto e copiloto, além de exames que buscassem identificar alguma doença que poderia ter contribuído para o acidente.
“Todos exames do tecido vieram negativos para outras enfermidades que pudessem contribuir com a morte. Só confirmaram as lesões traumáticas vivenciadas por todas as vítimas”, disse. “Os exames de teor alcóolico e toxicológicos não evidenciaram nenhum consumo de substância ou intoxicação”, acrescentou. A força da queda e impacto causou o politraumatismo em vários órgãos, causando a morte. “Foi um traumatismo intenso, num acidente com altíssima energia, infelizmente as lesões são muito graves nas três cavidades que a gente avalia, crânio, tórax e abdômen”, disse.
Acidente
O acidente aconteceu no dia 5 de novembro, quando o avião caiu perto de uma cachoeira em Caratinga, no interior de Minas Gerais. Marília Mendonça faria um show na cidade naquela noite e havia saído de Goiânia no início da tarde.
Além da cantora, estavam no avião e morreram o produtor dela, Henrique Ribeiro, o Bahia; o tio e assessor Abicieli Silveira Dias Filho; o piloto Geraldo Martins de Medeiros Júnior; e o copiloto Tarciso Pessoas Viana.
Inicialmente, a assessoria da cantora chegou a divulgar que todas as vítimas tinham sido resgatadas e estavam bem, mas isso acabou se provando falso. Antes das 18h, os Bombeiros confirmaram que todas as cinco vítimas tinham morrido.
Por: Correio 24 Horas